Tradição e lenda da Colomba Pascal ou “Colomba Pasquale”: como nasceu uma das sobremesas mais queridas da Itália?

Na Itália, Natal significa “Panetone” e “Pandoro”, da mesma forma que Páscoa significa Colomba Pascoal. O mais famoso bolo de Páscoa tradicional italiano não difere muito do panetone na sua consistência; no entanto, a massa tem a forma de uma pomba, ou seja, “colomba” em italiano, dai o nome Colomba Pasquale.

Veja abaixo quando participei do Programa Antena Paulista, falando sobre a Colomba Pasquale.

Os ingredientes são simples – farinha, ovos, açúcar, manteiga e casca de laranja cristalizada – mas o preparo é demorado e complexo. Antes de ser assada, a colomba é coberta com uma cobertura de amêndoa com açúcar de pérola e amêndoas inteiras.

Entre os doces da Páscoa, poucos têm a força simbólica da Colomba, um símbolo de paz e amor, com a simplicidade da massa e aquela doçura sentimental do glacê de amêndoa. E que é colocado lado a lado com aquele ovo que representa a Ressurreição. Mas talvez seja mesmo por isso que tenham florescido tantas lendas em torno de Colomba da Páscoa. Talvez para esconder uma origem muito menos nobre? Vamos descobrir mergulhando no mundo mágico da Colomba.

 

Lendas x Histórias

As lendas sobre as origens desta iguaria são muitas e ninguém sabe ao certo qual delas é a mais próxima da verdade real. O que se sabe certo mesmo, é que segundo a tradição, a Colomba Pasquale é uma sobremesa lombarda (da região Lombardia).

Primeira versão:

Segundo um deles, a primeira colomba foi criada em 610, em Pavia, então capital dos lombardos. A Rainha Teodolinda havia acolhido um grupo de peregrinos irlandeses, liderados por San Colombano e oferecido a eles um rico banquete de caça, mas o santo recusou a comida porque era época da Quaresma. Teodolinda e seu marido Agilulfo interpretaram a recusa como uma ofensa pessoal e foi então que Colombano ao abençoar a caça, a transformou os pães brancos em Colombas (ou seja os pães em forma de pombas).

Segunda versão:

A segunda lenda sempre tem como pano de fundo a região da Lombardia, precisamente na cidade de Pavia, mas desta vez o o ano é 572, na época do rei Alboin. Que, tendo cruzado os Alpes, travou guerra contra a Itália bizantina sitiando Pavia. Após três anos de cerco, a resistência foi vencida e os bárbaros entraram na cidade. Foi então que os Pavesi, para evitar sua fúria, lhes deram bolos macios em forma de pomba. Um gesto de paz que, segundo a lenda, evitou o saque e rendeu a Pavia o título de capital do reino recém-nascido.

A terceira versão:

Outra lenda traça a origem da colomba na batalha de Legnano (1176). Diz-se que um líder da Liga Lombarda viu duas pombas empoleiradas na insígnia da Liga, que permaneceram lá mesmo quando a batalha se aproximava. Interpretando isso como uma profecia de paz, o general, para dar coragem aos seus homens, ordenou aos cozinheiros que preparassem pães em forma de pomba com ovos, farinha e fermento.

A versão do Marketing:

Essas lendas sugerem que os bolos de Páscoa em forma de pomba devem sempre ter existido. O que não é novidade na gastronomia italiana, basta pensar em algumas versões da “cuddura com ovos sicilianos” (um biscoito de páscoa feito com amêndoas), em que a massa doce se harmoniza até com ovos cozidos. Mas a pomba que conhecemos hoje tem origens muito mais recentes.

No entanto, a colomba como a conhecemos hoje é relativamente recente. Na década de 1930, o panetone criado por Motta como uma evolução fermentada do antigo ‘ pan de Toni ‘ milanês já era muito popular. Naquela época, o artista e publicitário Dino Villani pensou em aproveitar (e claro, capitalizar) as máquinas, usadas por Motta para fazer panetones, para criar um novo bolo de Páscoa com uma receita muito semelhante.  Assim nasceu a “pomba da Páscoa” – “Colomba Pasquale“.

Foto: https://www.mottamilano.it/prodotti/colomba-originale/

Então, de que exatamente é feito o Colomba e qual a diferença entre ele e o panetone?

A massa da Colomba é produzida de forma semelhante ao panetone, com farinha, ovos, açúcar, fermento natural e manteiga.

Depois de ser moldada em forma de ‘colomba’ ou pomba, a massa é coberta com glacê e amêndoas antes de ser assada.

Enquanto o panetone contém passas e frutas cristalizadas mistas, a Colomba contém apenas casca de laranja cristalizada e nenhuma passas, com cobertura de amêndoa açucarada.

Também há diferenças na forma, o panetone é em forma de cúpula e a Colomba em forma (mais ou menos) de pomba.

Hoje em dia, a Colomba vem em uma variedade de versões com sabores que incluem chocolate, cereja, pêra e pistache.

Três massas se juntam:

Os ingredientes são muito simples, mas o procedimento é trabalhoso! Deve-se fazer 3 massas!

Para a primeira massa precisa de farinha, água, leite e fermento. Tudo deve ser deixado para levedar por algumas horas.

Em seguida, passamos para a segunda massa, durante a qual farinha, açúcar e manteiga serão adicionados à primeira, para ser deixada para crescer por uma hora e meia.

Agora passamos para a terceira massa. Ingredientes: farinha, manteiga, passas, ovos, açúcar, sal, baunilha e laranjas cristalizadas, para adicionar à massa anterior e deixar levedar durante 16 horas. Em seguida, a massa se acomoda no molde em forma de pomba. É coberto com um preparado com farinha e amido de milho, clara de ovo, açúcar mascavo, amêndoas e (às vezes) avelãs. Para guarnecer no final com outras amêndoas e grãos de açúcar e finalmente levar ao forno.

E ai, ja ficou com água na boca?

Sobre Deyse RibeiroEu sou Deyse Ribeiro, proprietária e editora do Portal Tour na Itália, especialista em turismo na Itália, onde vivo desde 2007. Depois de muito estudo, cursos e experiência no campo do turismo enogastronômico, decidi que queria apresentar a história por trás do prato, de uma forma diferente, através da memória histórica, o que fez chegar hoje nas nossas mesas, os “casos”, o trabalho, a cultura, e o amor pela culinária italiana. Pegue o seu garfo e vamos nessa!

2 comentários em “A história e a tradição da Colomba Pascoal”

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