A História do Torrone e a sua festa em Cremona

Você conhece a história do Torrone? Onde ele surgiu?

Não se pode afirmar com certeza a origem do Torrone. Há indícios de sua origem ser espanhola, e há indícios de sua origem ser italiana. O que se pode afirmar, é que a Itália, em específico Cremona, possui os torrones mais famosos, melhores, e conhecidos pelo mundo, além de sua tradição natal envolvendo esse doce. 

Esse doce contém uma massa de mel, clara de ovo, açúcar. Sendo cozida por cerca de 10 horas e, durante o processo, acrescentadas à massa nozes, amendoim, amêndoas ou avelãs; em algumas regiões, como na Sicília, eles acrescentam pistache.

Origem do Torrone

Torrone é uma sobremesa típica italiana principalmente para o Natal, seu nome deriva do verbo latino torrēre que significa “queimar” com referência à tostagem dos frutos secos que o compõe.

Ainda hoje não há notícias seguras,  mas há vários  vestígios que levam à península Arábica numa época por volta de 1200 e 1300  quando, diz-se, os muçulmanos o introduziram primeiro em terras ibéricas e depois na Itália. Mesmo alguns escritos antigos do sátiro romano Tito Livio já falavam do torrone. Há quem afirme que foram os árabes que descobriram o torrone, e que tudo aconteceu por acaso: parece que foi lançado um “concurso” procurar um novo alimento nutritivo para usar durante as longas e cansativas campanhas de guerra, um alimento que tivesse a capacidade de se manter em boas condições por muito tempo e que contivesse calorias à vontade para queimar em batalha. Outra hipótese leva a um artesão catalão apelidado de Turrò , que conseguiu, em uma época de miséria e fome, inventar um alimento superenergético com os recursos mais abundantes que a terra disponibilizava naquele momento. 

Na Itália, confronto entre municípios

Na Itália, no entanto, há um real embate entre os municípios quanto ao nascimento do Torrone. A versão de Cremona é talvez uma das mais conhecidas: diz-se que o Torrone foi preparado, pela primeira vez, para o banquete de casamento de Bianca Maria Visconti com Francesco Sforza, em 25 de outubro de 1441. A forma do Torrone reproduziria fielmente o Torrazzo, a torre do sino da cidade (e da qual provavelmente deriva o termo Torrone).

Além de Cremona, Benevento também reivindica a presença mais antiga do produto de confeitaria, que remonta ao século III-IV aC, no período dos samnitas.

Tito Livio, historiador romano , descreve, no século I, uma sobremesa muito parecida com o Torrone, chamada  cupedia  (traduzida em gula). De fato, os jargões regionais usados ​​para indicar o torrone ou especialidades semelhantes derivam do termo cupedia:  cupeta  em Salento e Calábria,  copata  em Siena,  copeta  na Campânia, onde o Torrone é dado mesmo durante a festa dos mortos. Na Sicília, porém, encontramos a  cubbaita e a juggiulena. Precisamente esses dois termos sugeririam que foram os árabes que trouxeram o torrone para a bacia do Mediterrâneo, para a Sicília, para a Espanha e para o resto da Itália. Finalmente, na  Sardenha o torrone pode ser rastreado até a culinária espanhola com a terminologia  Turun, em Veneto é conhecido como amêndoa.  

Etimologia

Além de algumas etimologias folclóricas como a de Torrazzo di Cremona, a palavra torrone na verdade deriva do verbo latino “torreo -ere” que, entre os muitos significados, também tem o de “queimar”, “tostar”, “torrar”. O torrone,  de facto, seja qual for a forma e variante que se encontre, tem a característica de ter um coração feito de frutos secos tostados (avelãs, amêndoas, etc.); a mesma etimologia também responde a “torragem “, que é o processo de torrar os grãos de café. 

Receita

O segredo desta sobremesa são os seus ingredientes genuínos. A receita tradicional usa apenas clara de ovo, açúcar, mel e nozes torradas (amêndoas, avelãs, nozes, amendoins). Existem também inúmeras reinterpretações mais particulares  que envolvem o uso de diferentes ingredientes e, em alguns casos, até a adição de cremes.

As variedades

O torrone nasce quebradiço, portanto duro, e requer um cozimento mais longo, até 12 horas. A sua rigidez pode ser abordada de duas formas: mordendo-o  ou partindo-o em lascas e comendo como se fosse uma “bala”, que seria então a forma ideal de o saborear. Mas  alguns confeiteiros também pensaram em inventar o torrone macio, que é uma variante com maior teor de água e menor tempo de cozimento, que dificilmente ultrapassa 2 horas.

Variantes locais

A receita do torrone varia de área para área. Na Itália encontramos o Torrone di Cremona: a cidade abriga algumas indústrias de confeitaria que representam as marcas mais conhecidas do setor (como Sperlari). Depois, o  torrone Aquilano,  também conhecido como torrone Nurzia (empresa que o produz em L’Aquila desde o século XIX), que é uma variante suave com o uso de avelãs e adição de cacau, aromatizado com baunilha. Há também o torrone piemontês, que previa o uso de avelãs. Enquanto, o  torrone da Sardenha se  diferencia pelo uso exclusivo de mel, sem adição de açúcar. A coloração, de fato, tende mais ao marfim do que ao branco. No  torrone siciliano, em vez disso, os pistaches são adicionados às amêndoas. 

Na cozinha

O torrone é uma  sobremesa deliciosa e versátil  que pode ser  facilmente reutilizada  na cozinha mesmo após o fim das férias. Se reduzido a  grãos, pode ser usado para dar fragrância e uma nota crocante  a sobremesas de colher  ou ser adicionado ao chocolate derretido para criar chocolates  deliciosos e originais . O torrone que sobrar também é ótimo para fazer  milkshakes,  sorvetes,  parfaits  e  tiramisu. Por fim, também pode ser recuperado para fazer  biscoitos,  mousses  e  cremes.

Entre os doces de Natal

O torrone é uma sobremesa típica de Natal, como o panetone e o pandoro. Mas por que está associado a esses feriados? Alguns pensam que o consumo vem do custo dos ingredientes de que é feito ; de fato, nos tempos antigos, amêndoas, mel, avelãs eram alimentos bastante difíceis de encontrar, e aqueles que conseguiam eram considerados ricos. Daí a suposição de que durante o Santo Natal, que é a festa mais importante do ano, existe uma tradição desde tempos imemoriais de que o excelente torrone nunca deve faltar nas mesas postas para uma festa.

O Torrone  em Cremona

Torrazzo

É a maior torre de sino da Itália, com 112 metros de altura, e uma fachada de mármore branco. A torre tem 487 degraus, o que possibilita uma das melhores vistas da cidade, conta com o relógio mais lindo e astronômico do século XV, o Battistero, de 1187, o Pallazio del Comune e a Loggia dei Milti. 

Cremona

Cremona se localiza na região de Lombardia, sua província se divide em 115 comunas. Possui as mais diversas belezas, as arquitetônicas, além de uma cultura fortemente alimentada pela música local, e sua riquíssima gastronomia, chamada “La Cucina Cremonese”. Tudo em Cremona exala elegância e poesia. 

Além disso, Cremona possui vários lugares para visitar, como: 

A catedral e o Batistério de Cremona, o Torrazo, Palácio e gabinete do prefeito, o Museu Cívico de Cremona. 

Leia o texto sobre Cremona aqui

Além de ser famosa pelo melhor torrone, Cremona é famosa por ser a capital dos violinos. A arte e a cultura dos Violinos estão no DNA da cidade. São inúmeras as oficinas de Luthiers, doces em forma de violino, até o torrone já teve em formato de violino. O Luthier que ficou conhecido e também o mais famoso em Cremona foi Antonio Stradivari. Ele, fez mais de 1.100 violas, violinos, violões e violoncelos. Alguns de seus instrumentos são vistos até hoje. Lá também é localizado o museu do violino, um lugar para mergulhar na história de cinco séculos. 

Cremona é realmente um lugar de maravilhas e encantamentos. Tudo em seu território chama atenção!

Curiosidades sobre o Torrone de Cremona

Algumas lendas dizem que a origem do torrone vem de 25 de outubro de 1441. O casamento de Bianca Maria Visconti e Francesco Sforza, em Cremona, teria sido servido um doce similar no banquete de casamento. 

A celebração do casamento teria acontecido na principal praça de Cremona, com duração de três dias e três noites. A família Visconti, família de nobres, teria pedido aos confeiteiros locais um novo doce para tal ocasião. Os confeitos prepararam um bolo duro e denso, a base de mel, amêndoas e claras de ovo. O objetivo era fazer uma sobremesa que se assemelhasse ao famoso campanário da catedral de Cremona. Foi ai então que nomearam o doce de torrone, que se parece com torrione, que seria uma grande torre. 

Festa do Torrone de Cremona

Para celebrar esta especialidade de origens antigas e sabor delicioso, todos os anos a cidade de Cremona, durante o mês de novembro, dedica ao torrone uma longa festa que dura uma semana e que permite aos participantes saborear os mais saborosos torrone de Cremona, deliciosas receitas inspiradas as excelências doces e saborosas da gastronomia local. Este ano a festa é de 12 a 20 de novembro de 2022.

Durante os 9 dias do  Festival, Cremona receberá um rico calendário de eventos, showcooking, encontros e premiações, passeios de barco, premiações, cardápios com  torrone como  protagonista e inúmeras iniciativas que todos os anos atraem milhares de visitantes, e o grande retorno da Locomotiva a Vapor que acompanhará os visitantes de Milão até a cidade conhecida por seus 4 T, um dos quais dedicado à deliciosa sobremesa. A quarta é uma homenagem ao ator cremonês Ugo Tognazzi.

Veja a programação da feira de 2022 AQUI

O cheiro dessa iguaria exala que não tem igual! A cidade se enche de barraquinhas, onde são servidas várias variações italianas desse doce, de todos os cantos da Itália. Muitas das barracas produzem o doce na hora, tanto para venda quanto para degustação. Nas variedades entram chocolate, pistache, café, limoncello, torrone gelato. 

São diversos os sabores para aproveitar e se deliciar. Ocorre na festa também, várias atrações, música, cultura, e até mesmo o desfile das mais inusitadas e diversas roupas. Entre os destaques estão: trajes renascentistas, os jogadores de bandeira, percussionistas, senhoras e cavaleiros, arqueiros e bobos da côrte. O desfile acontece do Largo Bocaccino até a Piazza del Comune. Lá também acontece a encenação do casamento de Francesco Sforza e Bianca Maria Visconti.

O evento ainda conta com outras várias atividades, assim como o jantar de Gala. O cardápio inclui risoto alla verza, pesto franciacorta satèn millesimato, esturjão com feijão e lentilha, salada de pêra e patê de torrone de chocolate. 

Uma curiosidade dessa festa aconteceu em 1999, onde um fabricante de torrone, o mais antigo em Cremona chamado Sperlari, decidiu construir um pão de nogado com 115 metros de comprimento e 600 quilos. Ele tinha a esperança de entrar no Livro dos Recordes Mundiais do Guinness. O megatorrone foi dividido em três mil pedaços e distribuídos ao público presente. 

Em 2019, Cremona homenageou em formato de torrone gigante, o gênio renascentista Leonardo da Vinci.  O torrone teria forma do Homem Vitruviano, e o doce seria feito pelo chef veneziano Mirco Della Vecchia. 

Apesar do consumo do torrone ser especialmente no natal, há várias lojas que vendem o ano todo.

 Por fim, a festa leva milhares de pessoas que acabam se apaixonando pelos detalhes dessa cultura e pela cidade em si. As receitas são passadas de geração em geração, o que torna tudo empolgante e extraordinário. Os detalhes dessa maravilhosa cidade e seus festivais de tirar o fôlego. 

De fato, Cremona tem o melhor torrone, e sabe muito bem transparecer isso, em sua cultura, seus eventos. O torrone de Cremona é encantador!

 

Ingredientes do Torrone:

De acordo com os nativos, a receita consiste em: 

Recheio:
500g de mix de castanhas de sua preferência (amendoins, avelãs, nozes, amêndoas, pistache, castanhas do Pará, castanhas de caju, etc.)
200g de mix de frutas desidratadas de sua preferência (passas brancas ou pretas, damascos, figos, morangos, laranja)

Marshmallow:
2 claras de ovos bem grandes
2 e 1/2 colheres (sopa) não muito cheias de açúcar refinado

Calda de especiarias:
1 copo de 200ml cheio
120ml de água
1 colher (sopa) bem cheia de mel
2 paus de canela
Raspas de 1 laranja ou limão
Extrato de baunilha

Calda de mel:
1 copo de 200ml de mel

Modo de preparo:

Leve as castanhas para serem tostadas em forno médio pré-aquecido. Cuidado para não queimar. Deixe esfriar e reserve.
Em seguida prepare a calda de especiarias levando todos os ingredientes para ferver em fogo alto até o ponto de bala firme. Enquanto a calda não chega no ponto inicie o preparo da calda de mel. Em uma panela alta, ferva o mel em fogo baixo, depois de ferver aguarde mais 8 minutos e desligue. Cuidado, pois o mel irá espumar e subir. Faça estes dois preparos simultaneamente para que fiquem prontos juntos.

Em seguida em uma batedeira bata as duas claras ao ponto de pico firme, depois acrescente aos poucos o açúcar sempre batendo. Ainda na batedeira despeje a calda de mel na batedeira. Faça isso com a batedeira ligada e coloque a calda aos poucos e de madeira uniforme. Em seguida faça o mesmo com a calda de especiarias e deixe o merengue bater por cerca de 10 minutos.

Acrescente as castanhas tostadas e os frutos secos e misture bem. Coloque sobre um tabuleiro revestido com papel manteiga untado com óleo. Espalhe bem e cubra com outro papel manteiga também untado com óleo. Neste momento você deve modelar o torrone para que fique uniforme. Leve à geladeira por 8h. Por fim desenforme e corte o torrone em barras do tamanho que preferir. Deixe sempre em local refrigerado.

Mas, não há nada como provar o torrone de Cremona feito pelos nativos. Seu sabor e qualidade são impecáveis, a ponto de não se reproduzir igual. 

Ficou com vontade de experimentar o torrone de Cremona? 

Temos serviço de guia em português na Lombardia.

Sobre Deyse RibeiroEu sou Deyse Ribeiro, proprietária e editora do Portal Tour na Itália, especialista em turismo na Itália, onde vivo desde 2007. Depois de muito estudo, cursos e experiência no campo do turismo enogastronômico, decidi que queria apresentar a história por trás do prato, de uma forma diferente, através da memória histórica, o que fez chegar hoje nas nossas mesas, os “casos”, o trabalho, a cultura, e o amor pela culinária italiana. Pegue o seu garfo e vamos nessa!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Experimente a Gastronomia Italiana